quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Eat

Andy Warhol e Robert Indiana se conheceram em Nova Iorque, enquanto este último exibia quadros e esculturas em uma galeria. O nome da amostra era "Eat". A partir de então, Andy, Robert Indiana e Marisol (uma artista venezuelana) passaram a sair muito juntos. Indiana ficaria mais tarde muito famoso pela série de quadros que fez intitulada "Love". O filme "Eat" de Warhol traz Indiana e seu gato, que aparece em duas cenas.
De acordo com Indiana, "Eat" foi filmado em seu estúdio em Manhattan, num domingo, 2 de fevereiro de 1964. Pouco antes disso, o artista Allan Kaprow tinha feito uma performance com o mesmo título, "Eat", no Bronx.
Robert Indiana construiu um sinal eletrônico com o nome "Eat" e o colocou em frente ao New York State Pavilion, na época de uma convenção internacional, em abril de 1964. O sinal eletrônico teve de ser removido porque estava atraindo milhares de turistas famintos.
Na noite anterior de fazer o filme, Indiana tinha visto Tom Jones. Inspirado pela cena desse filme em que há um banquete quase orgiático, Indiana fez um jejum antes das filmagens e preparou várias frutas para serem comidas. Warhol, entretanto, pediu que comesse apenas um cogumelo. Vagarosamente. Warhol usou nove rolos de 3 minutos para fazer esse filme e a montagem não foi linear, de maneira que não há nenhuma relação entre o tempo e o ato em si. O foco do filme é o ato e não a narrativa (pelo menos não a narrativa tal como comumente vista - linearmente).
"Eat" foi levado a público pela primeira vez em 16 de julho de 1964 no Washington Square Gallery. Nesse mesmo dia, Warhol lançaria "Blowjob", de surpresa.
Os filmes de Andy Warhol (aqueles que de fato fez com as próprias mãos, não os que apenas ajudou a fazer com dinheiro e nome) são legendários: ultrapassam o mundo da arte em que foram originados. "Legendários" é o adjetivo mais apropriado para esses filmes. Para dar um exemplo, entre os que sabem que "Empire" dura cerca de oito horas, pouquíssimos de fato viram o filme por inteiro (ou mesmo parte dele). Entre os que sacam das mangas o "Chelsea Girls" com um ar de familiaridade, poucos poderiam identificar qualquer das atrizes que estão nesse filme.
"Eat" é mais um exemplo da estética dos primeiros filmes de Warhol, onde o maior ato artístico é simplesmente o movimento de ligar e desligar a câmera. Todos os primeiros filmes de Warhol consistem na escolha de um ato ou objeto - do Empire State a uma pessoa comendo banana - enquadrado e filmado. O ato é observado do início lógico à conclusão lógica (ou, no caso de "Empire", o prédio é filmado da amanhecer ao anoitecer) e a câmera está sempre estática. Nesse parâmetro mínimalista, o mais ínfimo detalhe pode se transformar em eventos de proporções épicas. A mudança de rolo de filme a cada cinco minutos resulta em um encadeamento rítmico de ação e não-ação. Ao mesmo tempo, a arte nos primeiros filmes de Warhol está no fato de ele não nos oferecer aquilo que naturalmente esperamos. A ambigüidade e as perguntas sem resposta é o que faz os filmes de Warhol tão intrigantes e interessantes, para além dos títulos aparentemente óbvios que ostentam.

Ficha tecnica
Título Original: Eat
Gênero: Experimental
Diretor: Andy Warhol
Duração: 40 minutos
Ano de Lançamento: 1964
Origem: EUA

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